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O VAGABUNDO NA AMÉRICA


Nada mais significativo do que começar o filme com a imagem de um velho navio cortando os mares em direção a América, o sonho de muitos imigrantes. Logo de cara nos é mostrado os personagens principais do filme: o povo que viajavam em situações precárias a bordo de velhos navios, a mocinha (Edna Purviance) do filme e sua mãe e o nosso herói, alheio aos problemas de travessia dos outros, “pescando” o almoço do dia. Chaplin (o imigrante), na verdade, está mais preocupado com a diversão de pescar o peixe do que transformá-lo em comida. Tudo é motivo para momentos engraçados, como o peixe morder o nariz de um imigrante, por exemplo. O balanço do mar e o barco que se joga de um lado para o outro, se para a maioria é motivo de sofrimento, para Chaplin era motivo de puro divertimento. As pessoas vomitam no mar enquanto o nosso herói parece bailar de um lado para o outro. O diretor, Charles Chaplin, faz questão de entre uma cena e outra do seu personagem, focalizar a mocinha do filme, deixando em aberto o entendimento do seguimento da trama. E entre um cacoete e outro, a primeira parte do filme termina com o anúncio do jantar. De repente, parece que todos os imigrantes que sofriam horrores a bordo do navio por causa do balanço do mar, ganham tal vitalidade que todos correm a mesa, como se para o último não sobrasse comida. O nosso herói também corre para o refeitório e entre o vai e vem do balanço do mar, temos um dos momentos mais engraçados deste curta de Charles Chaplin: uma senhora é jogada de um lado para o outro sobre o assoalho, enquanto Chaplin se embola com ela e se enrola todo, ora por cima da mulher, ora do lado. Em seguida entra a mocinha do filme e Chaplin gentilmente cede o seu lugar. E aí fica implantado a relação principal do roteiro do filme, que, aliás, é de Charles Chaplin, também! Logo, para passar o tempo, os homens estão se ocupando como podem. Chaplin participa de um jogo de dados e acaba ganhando todo o dinheiro do gigante encrenqueiro (Eric Campbell), que enfurecido ameaça Chaplin, mas depois sai andando no convés do navio. O homem vê uma mulher deitada dormindo e rouba-lhe o dinheiro e retorna para desafiar Chaplin pedindo uma revanche no jogo. Jogam cartas e Chaplin novamente ganha todo o dinheiro do malfeitor. Campbell não se contém e decide agredir Chaplin. Chaplin o ameaça com um revólver fazendo os maiores malabarismos e gracejos para o enfurecido agressor.
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Nota: Aqui temos um Carlitos que utiliza uma arma! Chaplin ainda não tinha conseguido formar direito o perfil do seu famoso personagem. Raramente em filmes posteriores Chaplin se utilizaria da violência contra a violência.
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Logo em seguida a filha da mulher (a mocinha do filme) descobre que a mãe foi roubada e fica completamente desconsolada. Chaplin é acusado por um homem do roubo, mas acaba se safando. Ajuda a desesperada moça ao entregar-lhe praticamente todo o seu dinheiro a ela. Ela fica agradecida com a generosidade dele e ali começa um mágico relacionamento. Finalmente aportam na América e logo de cara vemos a Estátua da Liberdade, símbolo da independência e também do poderio econômico dos americanos. Logo que desembarcam, depois de serem tratados rudemente pelos homens da alfândega, Chaplin e Purviance se perdem; cada um indo por caminhos diferentes. Chaplin reencontraria Purviance num restaurante onde aconteceria as maiores confusões, já que Chaplin havia perdido a moeda para pagar a conta de sua despesa e também de sua convidada. Mas no fim, após conhecer um empresário que quer contratá-los para trabalhar como artistas, tudo acaba bem. Chaplin e Purviance saem do restaurante e logo estão às portas de um cartório aonde irão se casar. E o filme acaba.
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Este é um dos curtas (20 minutos) dos mais famosos de Chaplin. A fotografia acima foi dezenas de vezes imitada em muitos filmes sobre o tema. Inclusive em novelas brasileiras: foi muitas vezes utilizada a cena de um misto de apreensão e esperança no novo. Pois sempre é uma novidade e um desafio imigrar para outro país, sempre é uma vida que recomeça.
Neste tema, que é, de profunda importância para as pessoas que vivem no Continente Americano, Chaplin nos apresenta a sua versão da história.
Na verdade, este curta não é apenas uma versão cômica sobre os imigrantes que vinham para as Américas, mas também uma espécie de parábola da vida do próprio Chaplin, que veio para os Estados Unidos e acabou sendo contratado por um empresário americano, o grande Mack Sennett.
O Imigrante foi o décimo-primeiro filme de Charles Chaplin de sua série de doze comédias que ele fez para a Mutual, sendo lançado em 17 de junho de 1917. Dizem os historiadores que tais eram as necessidade de Chaplin pela perfeição, que foi utilizado 30 mil metros de negativos na produção do filme e que ele se manteve acordado por 4 dias e 4 noites seguidos fazendo a edição final. Afinal, Charles Chaplin também era o editor do filme!
Assisti outro dia novamente este curta de Chaplin e tive alguns momentos de deliciosa nostalgia de um tempo (em que eu não vivi!) que, infelizmente não voltam mais. O Imigrante é, sem dúvidas, um clássico do gênero.
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